|                     Foto e biografia: circulodepoemas.com.br    JÚLIO CASTAÑON  GUIMARÃES( BRASIL – MINAS  GERAIS )
   Júlio  Castañon nasceu em Juiz de Fora (1951)  e vive no Rio de Janeiro. Seus  livros de poesia foram reunidos em Poemas (Cosac  Naify/7Letras, 2006), tendo publicado a seguir Do  que ainda (Contracapa, 2009). Escreveu também estudos,  como Por que ler Manuel Bandeira? (Globo,  2008) e Entre reescritas e esboços (Topbooks,  2010). Traduziu As flores do mal, de  Baudelaire (Penguin/Companhia das Letras, 2019, prêmio Paulo Rónai de tradução  da Biblioteca Nacional), além de outros autores, como Mallarmé, Paul Valéry,  Rimbaud, Roland Barthes e Francis Ponge.   INIMIGO RUMOR – revista de  poesia.  Número 11 – 2º SEMESTRE 2001. Editores:  Carlito Azevedo,  Augusto Massi.   Rio de Janeiro, RJ:  Viveiros de Castro Editora, 2001.  204   p.   ISSN  415-9767.                                          Ex.  bibl. de Antonio Miranda 
 
 ALGUMAS ESTROFES
 
 talvez  fosse o caso
 de dizer que ia de roldão
 como qualquer coisa
 a que se pudesse associar
 não as elaborações de um estilo
 mas apenas um modo
 
 qualquer coisa
 perdida na falta de noção
 do que quer que seja
 de nexos de aproximações
 que rompessem os arredores
 da indistinção
 
 ou um modo como
 o do empenho em dizer
 entre aresta e rumor
 mas quando se entrechocam
 caminhos sem roteiros
 numa ausência de elocução
 *
 
 se  o que se acumula
 talvez não passe de vazios
 que nesse movimento
 por sua impassibilidade
 se revelem simulacros
 de si próprios
 em mais um movimento
 que se diria impossível
 não fosse esse peso crescente
 a desenhar toda a imobilidade
 
 pois que a paisagem
 não tanto por esse descampado
 ou esta trilha e sua curva
 mas sobretudo como método
 em que do abismo de dentro
 se extrai o que no horizonte
 se arquiteta com resquícios de  sons
                             *
 um  núcleo tão obscuro
 que em sua densidade
 desordena sem comoção
 os planos
 até a superfície
 e além — as ingênuas estratégias
 para produção de sentimentos  voláteis
 *
 
 no trecho em que de onde
 até o horizonte
 entre alguma medida
 e o que de vago
 
 há o que na distância
 brota tão avassalador
 quanto esfacelada
 a certeza à mão
 *
 
 tudo  é passado
 
 e a afirmação se elabora
 como mais que um arranjo
 que se segue não a mecanismos
 para falsear sombras
 mas a uma soma
 de recuos extravios fragilidades
 então quase proposta de lema
 
 para todo o futuro
      APROXIMAÇÕES 
 do que à deriva em  uma região
 às vezes esquiva mas aos poucos
 recuperada por andanças
 dessas que buscam numa pele
 antes mesmo do tato a iminência
 de uma pulsação e além
 como entraria no ar
 não seu desenho desenvolto na  brisa
 mas o som a escoar
 pelas reentrância de seu silêncio
                            *
   do que então só  pelas rotas desandadase uma imaginação quase sem avessas
 não fossem imagens que se armam
 com arredores disto e daquilo
 em acúmulo cujos volumes escasseiam
 pois que acréscimos de transparências
 em que as palavras tão reticentes  quanto esparsas
 vão esfiapando um mínimo que seja
 de negociação com as próprias coisas
 então soltas prestes em desequilíbrio
 *
 do  que sempre apenas quase à mão
 pois no fio de lembranças arredias
 quando não ocultas sob árvores
 à beira de trilhas que se enfurnam
 pela mata pelas tardes pelos sustos
 das almas e seus corpos
 senão que no baldio (ou a pino) das  horas
 alimentam o engenho de modulações
 para essa luz obscura
 a lâmina da desolação e sua  persistência
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